educação

Índices de violência escolar caem 45,6% em Santa Maria

Carmen Staggemeier Xavier

Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Ferramentas como as Cipaves, além de registrar e monitorar ocorrências, auxiliam na definição de ações de combate à violência

O período é de férias. Mas, para alguns professores e diretores de escolas, é momento de planejar as atividades para mais um ano letivo. E, além das questões pedagógicas, é preciso pensar em ações que contribuam para um ambiente de aprendizagem saudável e produtivo. E, aí, surge um grande desafio: o combate à violência nas instituições de ensino.

Um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Educação (Seduc), por meio do Programa Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave), demonstra que o número de casos totais de violência nas escolas diminuiu em Santa Maria, de 1.311 casos, nos últimos seis meses de 2017, para 598 no segundo semestre de 2018, nas instituições da rede estadual, o que representa uma queda de 45,6%. A pesquisa foi realizada em 49 instituições de ensino que responderam aos questionários.

O titular da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE), José Luiz Eggres, explica que as Cipaves foram implementadas em 90% das escolas de sua abrangência, o que vem contribuindo para a implantação de uma cultura de paz.

- Essa é uma excelente ferramenta de prevenção à violência e aos acidentes escolares. Atingimos ótimos resultados, pois foram reduzidos, significativamente, os índices de violência - destaca Eggres.

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Entre as principais ocorrências que tiveram queda, chama a atenção a redução no número de casos de bullying. Foram 156 registros no segundo semestre de 2017 contra 37 no mesmo período de 2018, o que representa uma queda de 76,29%. Também destaca-se a redução nos casos de depredações, pichações e vandalismo, de 68 ocorrências para 19, uma queda de 72,06%, e de agressão física a professores, funcionários e direção, com um registro no segundo semestre de 2018, uma diminuição de 92,31%.

Na avaliação da conselheira tutelar Ana Luiza Britto Costa, que acompanha de perto o dia a dia das famílias e da comunidade escolar na região leste de Santa Maria, esses são resultados de uma política que depende da atuação de toda a rede escolar.

- É preciso envolver todos para que a escola consiga diminuir cada vez mais esses índices - reforça a conselheira.

EM QUEDA

Tipo, 2º semestre de 2017 e 2º semestre de 2018

  • Bullying - 156 e 37
  • Depredações, pichações e vandalismo - 68 e 19
  • Assaltos na entrada ou saída da escola - 2 e 1
  • Agressão verbal a professores, funcionários ou direção - 157 e 66
  • Arrombamentos e/ou furtos - 18 e 6
  • Agressão física a professores, funcionários e direção - 13 e 1
  • Racismo - 57 e 2
  • Violência física entre alunos - 153 e 110
  • Acidentes de trânsito no entorno da escola - 15 e 0
  • Indisciplina - 610 e 266
  • Suicídio - 0 e 1 
  • Tentativa de suicídio - 0 e 8
  • Automutilação - 0 e 41
  • Armas de fogo - 0 e 1
  • Armas brancas - 0 e 18
  • Tráfico de drogas - 0 e 2
  • Posse de drogas - 0 e 3
  • Uso de drogas - 0 e 4
  • Consumo de bebidas alcoólicas - 0 e 7

O QUE É A CIPAVE

  • A Comissão Interna de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave) busca orientar a comunidade escolar (alunos, professores, gestores e responsáveis) sobre as mais diversas situações que podem ocorrer no ambiente escolar
  • Tem por objetivo identificar situações de violência, acidentes e causas; definir a frequência e a gravidade com que ocorrem, averiguar a circunstância em que ocorrem essas situações, planejar e recomendar formas de prevenção, formar parcerias para auxiliar no trabalho preventivo, estimular a fiscalização pela própria comunidade escolar, e realizar estudos, coletar dados e mapear os casos ocorridos para que sejam usados no trabalho de combate e prevenção dos acidentes e violência na escola

ATENÇÃO ESPECIAL QUANDO O AGENTE É A PRÓPRIA VÍTIMA

Se, por um lado, os índices totais de violência escolar tiveram queda na rede estadual em Santa Maria, no segundo semestre de 2018, por outro, algumas ocorrências que, até então, não eram registradas, chamam a atenção. É o caso das automutilações e das tentativas de suicídio entre os alunos. No segundo semestre de 2017, nenhum desses casos havia sido apontado pelas instituições. Já no mesmo período do ano passado, foram 41 ocorrências de automutilação e oito de tentativas de suicídio na cidade.

Na avaliação do advogado, pesquisador e professor Eduardo Pazinato, que foi secretário de Segurança Pública e Cidadania em Canoas, implementando, nessa cidade, o instrumento criado em Caxias do Sul, é possível que as escolas tenham priorizado as ocorrências de maior gravidade.

- De fato, temos observado, entre crianças, adolescentes e jovens adultos, um crescente número de casos de suicídio. Esse tipo de violência está ligado, diretamente, ao modelo de sociedade que cobra desempenho e produtividade e que estabelece graus de competitividade e de ranqueamento dos alunos. A automutilação também está associada ao mundo cibernético, em que determinados jogos levam a criança e o adolescente a marcar o próprio corpo como expressão de sofrimento - avalia Pazinato.

Uma estudante de 13 anos, com histórico de automutilações, contou ao Diário que a prática surgiu como uma brincadeira, mas, depois, passou a ser uma forma de aliviar suas angústias e incertezas, e admite que funciona, também, para chamar a atenção das pessoas.

- Não sei se é da idade, mas é difícil ser aceita pelas pessoas. A gente tem que ser a mais bonita, a mais inteligente, a melhor em tudo, e eu não sou nada disso - justifica.

Para a conselheira tutelar Ana Luiza Britto Costa, infelizmente, esses índices crescem no mundo inteiro e, em Santa Maria, não é diferente.

- Nesses casos, quando identificados, é fundamental o envolvimento da escola, dos pais e de outros integrantes da rede de proteção, como profissionais da área da saúde e da assistência social - orienta.

REDE MUNICIPAL

Em Santa Maria, outra ferramenta foi utilizada, de forma experimental, pelas escolas da rede municipal. De 2 de abril a 31 de julho de 2018, o Registro Online de Violência na Escola (Rove) apontou as principais ocorrências nas instituições de ensino.

- São iniciativas que ajudam a balizar a implementação de políticas públicas. Esse foi um trabalho interessante desenvolvido com a Guarda Municipal, resultando na criação da patrulha escolar. É uma forma de prevenir a violência junto aos jovens, que são, ao mesmo tempo, agentes e vítimas dessa violência - avalia Pazinato.

A PROBLEMÁTICA DO USO E DO TRÁFICO DE DROGAS

Foto: Lucas Amorelli (Arquivo Diário)

Desde que o mapeamento da violência nas escolas passou a ser feito de forma online, por meio do registro das ocorrências diretamente no sistema das Cipaves, alguns tópicos, como uso, posse e tráfico de drogas, cresceram no ambiente escolar. No segundo semestre de 2018, foram dois casos de tráfico, três de posse e quatro de uso de drogas no ambiente escolar. Em 2017, não houve nenhum caso registrado.

A conselheira tutelar Ana Luiza Britto Costa destaca que, em alguns casos, a família não quer aceitar o fato, e a escola acaba tendo papel fundamental na identificação desse problema.

- É preciso procurar ajuda na área da saúde, na escola, no Conselho Tutelar, que irá requisitar o atendimento imediato. Muitas vezes, conforme a gravidade do caso, o Conselho e a rede de proteção precisam encaminhar o caso ao Ministério Público e ao Judiciário - explica.

Segundo Ana Luiza, essa realidade só mudará a longo prazo, com a adoção de políticas públicas eficazes, em que as famílias sejam as beneficiárias.

O advogado e pesquisador Eduardo Pazinato destaca que é preciso investir em uma atuação integrada, para além das escolas, incluindo autoridades policiais, judiciais e de saúde pública.

- Precisamos construir uma política, tanto em nível estadual quanto municipal, de prevenção de violência nas escolas, além das Cipaves, que contemple um diagnóstico claro da dinâmica das violências que ocorre no ambiente escolar. Por isso, é preciso uma ferramenta de diagnóstico e monitoramento diário que gere informações para qualificar a tomada de decisões - defende.

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